domingo, 30 de março de 2008

Suicide

"I was there in 1974 at the first Suicide practices in a loft in New York City."
LCD Soundsystem in Loosing My Edge

A primeira vez que vi os Suicide foi no Rivoli em 1988.
O antigo Rivoli, antes das obras dos anos 90, era uma verdadeira sala de culto. As palavras do Carlos Tê na canção do Rui Veloso ilustram bem a importância que teve nos anos 80. Lá se realizaram os grandes concertos importados e era lá que as bandas nacionais davam os melhores espectáculos na cidade do Porto. Lembro-me, por exemplo dos Pop del Arte com os Mão Morta, inesquecível. Mas, sobre isso, falarei noutro dia.
Nesta tourné os Suicide reapareceram duma longa ausência a convite da Blast First para tocarem em londres, tendo depois continuado por outras datas na Europa e nos EUA. Neste ano realizaram o seu primeiro concerto em dez anos na sua cidade natal, Nova Yorque.
O palco do Rivoli apresentava um cenário minimalista com apenas um pequeno teclado que Martin Rev maltratou durante todo o espectáculo.
Foi uma noite mágica. Pela primeira vez, uma banda de culto que já se julgava extinta estava ali com toda a sua pujança a inflamar a assistência. Hoje em dia, já não surpreende a quantidade de dinossauros que renascem das cinzas. Não foi o caso dos Suicide naquela noite. Embora Alan Vega tivesse já uma barriga proeminente muito diferente das fotografias nas paredes do meu quarto, conseguiu, por umas horas, transportar-nos para o CBGB's dos anos 70.
Lembro-me também duma parte do concerto em que o Martin Rev deixou o teclado em loop extridente durante uns bons cinco minutos e caminhou frenéticamente em círculos pelo espaço vazio do palco.
Um dos grandes concertos da minha vida.

Em 2004 os Suicide deram um concerto único em Portugal. Por acaso vivia em Lisboa na altura e não foi difícil deslocar-me ao Paradise Garage nessa noite. Foi um concerto mais calmo que o primeiro. Os dezasseis anos de diferença fizeram-se notar, tanto na voz do sr. Vega como na nova geração de público uriundo das influências que o duo novaiorquino teve nas novas ondas de música electrónica.
Foi também um concerto mais político e mais comunicativo. Pela próximidade entre a banda e o público que a sala do Paradise Garage permite, Alan Vega mostrou-se um cúmplice bem disposto, soltando piadas a George Bush e criticando subtilmente a situação no Iraque. Era ainda a tourné de American Supreme.
No fim do concerto, na porta do lado como é hábito no Paradise Garage, Alan Vega teve a amabilidade de me autografar o bilhete.

Um ano depois do meu último contacto com estes grandes senhores do underground novaiorquino, o meu velho amigo Paulo Vinhas conseguiu trazer o Martin Rev ao Passos Manuel.
Com a sala incompreensívelmente meio cheia, Martin Rev, de expressão sempre camuflada pelos óculos escuros, deu um concerto intimista e experimental. A euforia quase psicótica da sua relação com o teclado mostrou-nos uma técnica inconfundível. Uma abstracção dissonante e repetitiva repleta de crescendos e picos que pautaram uma electrónica de ambientes densos e obsessivos. Tocou mais de duas horas, voltando três vezes ao palco para mais música com o pequeno grupo de pessoas em constante delírio mas, não disse uma única palavra durante todo o concerto. Depois disto, pelo autismo alucinado da performance, fiquei com a falsa ideia de um Martim Rev, genial mas, de uma timidez esquisofrénica. A sua música tinha-o exprimido de uma forma singular e excelente. E digo falsa porque, no dia seguinte, estava eu na Apúlia a comer um peixinho assado quando o Martin Rev, ainda com os seus óculos escuros, entrou no restaurante para comprar uma garrafa de vinho. Tal foi a minha surpresa de o ver naquela pacata freguesia à beira-mar que me levantei para o abordar. Ele tinha sido levado ali perto pelo meu amigo para uma jantarada. Falámos por um bocado. Ele elogiou a beleza do meu país e, óbviamente agradeci-lhe o fantástico concerto da véspera. Afinal, era uma pessoa acessível, simpática e comunicativa. No fim autografou-me o bilhete.


Estes foram mais três concertos inesquéciveis e...
...eu estava lá.

Portishead, Coliseu do Porto, 26 Março 2008

"Esteja alerta para as regras dos três. O que você dá, retornará para você. Essa lição você tem que aprender, você só ganha o que você merece."
(abertura de Third, o próximo álbum dos Portishead)


Alinhamento do concerto:

Silence
Hunter
Mysterons
The Rip
Glory Box
Numb
Magic Doors
Wandering Star
Machine Gun
Over
Sour Times
Only You
Nylon Smile
Cowboys
(encore)
Threads
Roads
We Carry On

eu estava lá
© frank zapping

eu estava lá
© frank zapping

eu estava lá
© frank zapping

eu estava lá
© frank zapping

Um bom concerto, a acústica da sala funcionou irrepreensívelmente. Com o Coliseu a rebentar pelas costuras, a performance foi sóbria e eficiente. O público correspondeu.

O novo álbum, que não tem a genialidade de Dummy mas continua fiel à estética da banda, só sai em 28 de Abril mas já se pode ouvir gravações de concertos (de qualidade aceitável) aqui.

Eis o vídeo do primeiro single Machine Gun:



Foi uma grande noite e...
...eu estava lá.